Tomate - Equipa de Vela

AS HISTÓRIAS E AVENTURAS DA "EQUIPA DE VELA TOMATE" - O MAR - A VELA - OS BARCOS À VELA - A RIA FORMOSA E O MUNDO MARINHO...

terça-feira, 29 de setembro de 2015

António Fontes na primeira pessoa após a 1ª Etapa da Mini Transat 2015

Texto encontrado no facebook de António Fontes - Português participante na http://www.minitransat-ilesdeguadeloupe.fr/ 

Aqui fica o relato na primeira pessoa desta primeira etapa, e que etapa! 
Começou com uma largada um pouco stressante com 72 barcos a fazerem um pequeno percurso costeiro onde não era fácil fazer todas as manobras e ainda estar constantemente a desviar dos outros barcos, mas correu tudo bem e consegui sair nos lugares da frente.
Na primeira noite como previsto não houve vento pois passamos pelo meio de um anticiclone que durou pelo dia seguinte, eu tinha umas algas na quilha que não conseguia tirar e mergulhei para limpar tudo, na Bretanha junto à costa tem muitas algas que ficam presas nos lemes e na quilha, mas fui amarrado ao barco e com fato completo porque nesta zona do golfo da Biscaia tem muitas alforrecas perigosas e não valia a pena arriscar...
A seguir como previsto ainda faltavam duas frentes frias passar antes de chegar ao cabo Finisterra. Assim se passou mas no final da primeira frente o vento rodou e já dava para ir com o Gennaker, quando carreguei no botão auto, a eletrônica bloqueou e dizia 'curto circuito' eu sem saber o que fazer , dois barcos que vinham atrás de mim já com o Gennaker estavam a apanhar-me, depois de tentar o piloto de emergência, sem sucesso também, lá consegui perceber de onde vinha o problema, era o anemómetro que estava em curto circuito, desliguei e já tinha piloto outra vez. Finalmente pus o Gennaker e comecei a recuperar os metros perdidos para os outros dois... Para tentar descrever, íamos ao largo 90° de vento aparente, a fazer pontas de 15 nos, água por todos os lados! E cada onda contava porque se falhávamos uma, os outros apanhavam e ganhavam uns metros...
Na chegada ao cabo o meteorologista com quem estou a trabalhar, Jean Yves Bernot, disse que era melhor passar por fora do esquema de separação de tráfico dos navios, mas quando cheguei perto já não tinha ângulo para passar por fora e fui obrigado a ir por dentro, infelizmente havia uma bolha sem vento que se deslocou da Biscaia para ali e ficamos parados umas horas sem vento...
Quando conseguimos sair dali foi como o meteorologista disse, férias! Popa 20 nós de vento! Descemos a costa Portuguesa muito rápido, no final toda a gente passou a gostar de Portugal por causa do vento! Na verdade este vento é comum quase o ano inteiro! 
Quando cheguei em frente a Lisboa estava exausto, ainda não tinha conseguido dormir um período de 20 minutos seguidos desde a largada, dormia 2/5 minutos e acordava com algum barulho e vinha cá fora... Nessa noite disse-me que tinha mesmo de descansar e abrandei um pouco, mas mesmo assim não consegui dormir bem e passado pouco tempo começaram as alucinações, uma vez acordei fui a proa e comecei a desmontar o barco para entrar no porto, quando voltava para trás para preparar os cabos de amarração perguntei-me: como vou fazer isto? Estava uma noite muito escura, não se via nada. Foi então que vi um peixe voador no convés e percebi que estava em alto mar e não ia entrar em porto nenhum... Voltei a pôr o barco a andar e fui dormir. Foi a primeira vez que tive uma alucinação tão forte! Na manhã seguinte estava muito em baixo, pensava que tinha perdido bastantes lugares. Mas quando ouvi a classificação às 10h tinha recuperado 3 lugares... 
A partir daqui o vento acalmou 15/20 nós e eu já não via ninguém, mas como não tinha anemómetro não podia usar o modo vento do piloto automático e como o vento varia muito nesta zona passava a vida a vir cá fora para não daixar o spi bater... Com isto continuei a não descansar bem e tive mais dois episódios de alucinações, sem perceber onde estava...
Foi uma etapa mais dura do que estava à espera, muito intensa, mas foi espetacular, estes barcos com este vento vão mesmo rapido. Passava os dias a planar, ia para o leme apanhar ondas até me fartar e depois passava para o piloto e às vezes apanhava mais ondas que eu...
Não consegui gerir bem os sonos o que se refletiu em algumas decisões menos boas mas no geral estou contente com a velocidade do barco e penso que vamos ter uma segunda etapa renhida. Espero conseguir recuperar alguns lugares visto a classificação ser o somatórios dos tempos das duas etapas.
Obrigado pelo vosso apoio!!!
Meritis
Vela Solidária
Terra Incógnita
Clube Naval de Cascais
NAVIS
BBDouro



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